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DEVOÇÃO A MARIA

Maria é a mãe de Jesus Cristo, filha de Sant’Ana, também conhecida como mãe de Deus e Nossa Senhora. Ela é tida na tradição cristã como a mulher que traria ao mundo o Messias, salvador da humanidade, anunciado no Primeiro Testamento, crença também judaica, como veremos ao tratar do próprio Jesus Cristo no módulo seguinte. Antes dessa identificação, Maria era um jovem israelita de apenas doze anos de idade quando foi prometida a José. Os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) indicam Maria como uma mulher simples de Nazaré, pequena cidade na região norte da antiga Palestina, atualmente território de Israel predominantemente muçulmano. 
Maria é única no Cristianismo, tornada várias pelos féis ao redor do mundo e ao longo dos tempos, com representações diversas da mesma mulher: Nossa Senhora de Guadalupe no México; Nossa Senhora da Conceição nos Estados Unidos, basílica em Washington; Nossa Senhora de Todos os Povos no Japão; Nossa Senhora de Fátima em Portugal;  Nossa Senhora de Lourdes na França. Essa devoção mariana ganha força no próprio exercício de fé dos povos, pois nas escrituras sagradas Maria não tem tão destaque quanto Jesus Cristo. No Brasil é muito conhecida Nossa Senhora de Aparecida, mas aqui, talvez mais que em qualquer lugar do mundo, Maria é reverenciada e suas imagens se multiplicam. A primeira já chegou com os portugueses em 1500 junto com Pedro Álvares Cabral, evento crucial e simbólico do início da formação do nosso país.
Uma das formas de se retratar e referir-se à Maria é por Nossa Senhora da Imaculada Conceição, originada pelo dogma católico através do qual a Igreja defendeu que a concepção de Jesus por Maria foi sem a “mancha” (mácula em latim) do pecado original, ou seja, Jesus teria sido concebido sem relações sexuais. Foi o papa Pio IX, em 1854,  que proclamou tal dogma da Imaculada Conceição, tomando por base várias passagens do Primeiro e Segundo testamentos, das quais podemos destacar uma bastante objetiva: “o que nela [Maria] foi gerado, é por virtude do Espírito Santo” (Mateus 1:20). Outra forma de representação de Maria é a Nossa Senhora do Rosário. A titulação tem origem em 1214, quando São Domingos de Gusmão, um frade dominicano francês, teria recebido o Rosário de Maria. No Seridó ela tem uma devoção especial ligada à Irmandade dos Negros do Rosário, secular e que bem representa uma forma de resistência cultural através da fé. Maria forma o elo entre Sant’Ana e Jesus nesse núcleo familiar que o Seridó tanto tem devoção, foi guiada por ela para seguir a missão de orientar os primeiros passos dele.

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Título: Nossa Senhora do Rosário

Autor: Desconhecido

Dimensões: 42x48x[?]

Registro: 92.1.04

Os ícones que foram sendo elaborados para a Virgem Maria foram agregando vários significados, simbologias diferenciadas ao longo dos séculos, sempre em busca de realçar as qualidades de pureza, castidade e obediência que a fizeram ser escolhida por Deus como aquela que geraria o seu único filho, o Redentor do mundo. Múltiplas são as formas de invocá-la, de solicitar sua intercessão na rotina e desdobramentos do caminhar da humanidade, sobretudo para os adeptos do catolicismo romano. Ela experimentou a vida terrena, seu histórico é repleto de conhecimento do viver na materialidade, razão pela qual entrou na história do catolicismo como a advogada, intercessora das necessidades da vida terrena junto ao seu filho Jesus e a Deus.

No Brasil sua devoção será bastante propagada como um modelo de fé inabalável, inquestionável. Para lembrar aos fiéis da necessidade de permanecer na profissão da fé católica sob qualquer circunstância, diante de qualquer situação. Desde os primórdios da colonização portuguesa que a sua veneração foi muito divulgada, era preciso catequisar a todos aqueles que estavam envolvidos no processo de ocupação dos novos territórios, catequisar pela arte, contar a história dos exemplos através da pintura ou escultura foi uma estratégia muito eficiente de expansão concomitante do catolicismo. A devoção a Nossa Senhora do Rosário foi criada por São Domingos de Gusmão, em meados do século XIII na França. Ele teria recebido um rosário das mãos de Maria, juntamente com um pedido dela para que incentivasse a oração do rosário pelos fiéis e, principalmente, que conseguisse a conversão de novos adeptos através de sua intercessão. Desde então a ordem religiosa dos Dominicanos adotou como regra o incentivo ao culto ao rosário e a Nossa Senhora.

A imagem de Nossa Senhora do Rosário, escolhida para compor o acervo disposto nessa exposição, obedece aos critérios estabelecidos pela Igreja Católica para esta atribuição. Na maioria das imagens ela recebe um véu na cor branca que, para o catolicismo, tem a atribuição da pureza, das virtudes que estão atreladas a vida terrena de Maria, da capacidade de amar sem distinção a todos aqueles que a venerarem. Nessa peça o seu véu foi encarnado com um douramento completo, simbolizando a sua realeza, seu lugar de rainha, significando o poder que emana de sua história de escolhida por Deus para ser a gerar sua descendência. Sua túnica é azul para recordar a cor do céu para onde ela foi em sua assunção, o lugar em que reina em proximidade com seu filho e conforme as determinações de Deus.

Seu manto é azul e dourado na parte externa, o azul para lembrar o céu e as contas do rosário e internamente é vermelho com o objetivo de ressaltar seu sofrimento como mãe de Jesus, o martírio do seu filho, dos mistérios dolorosos vivenciados pelos dois. Vermelho para lembrar o sangue que foi derramado na morte por crucificação de Jesus e para associar a ideia de que o sofrimento conduz o cristão para salvação. As nuvens, em conjunto com a tríade de querubins, apresentam a coloração dourada, significando seu reino, sua corte angelical tal qual as rainhas terrenas dispunham, reina sobre o mundo terreno, seu poder é absoluto, seguindo as determinações divinas, podendo significar, também, os mistérios gloriosos do rosário, que lembram a ressurreição e a vitória do seu filho.

É importante realçar que em Caicó o culto a Nossa Senhora do Rosário é muito evidente posto que, até o presente momento, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é um destaque na história cultural e religiosa da cidade e da região. A invocação do Rosário pela irmandade foi escolhida pela crença no poder incontestável de Maria perante Deus e seu filho. Ela foi entronizada para ajudá-los e conduzi-los na luta pela liberdade de todos os homens.

Título: Imaculada Conceição

Autor: Desconhecido

Dimensões: 22x18,8x[?]

Registro: 92.1.09

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O culto à Imaculada Conceição está historicamente situado no processo da Reforma do Catolicismo, no século XVI, quando numa das decisões do Concílio de Trento, a igreja resolveu retomar e difundir o culto mariano. Um dos pontos centrais para as reformulações foi ressaltar a natureza de virgindade de Maria, transformando a crença em dogma oficial em 8 de dezembro de 1854, por meio da Bula Papal Ineffabilis Deus, proclamada pelo Papa Pio IX. Desde o princípio as características de pureza absoluta, da mulher que concebeu sem o pecado, tendo sido também concebida por Ana por graça divina, são destacadas na biografia mariana. Essa crença na virgindade de Maria era aceita nas igrejas orientais e ocidentais.
A invocação de Imaculada Conceição conferiu a Maria uma natureza de completa virgindade, de uma vida completamente voltada para a obediência aos preceitos da fé que professava, aceitando acatar as determinações divinas para gestar o verbo de Deus encarnado. Concebeu sem a mácula do pecado humano, como se refere os escritos da igreja católica para falar da sua biografia.
Em razão de sua pureza, doçura e graça, seu culto foi propagado em todos os lugares em que o catolicismo chegava, onde houvesse um lugar sagrado para os cultos, no espaço privado ou público, ali estaria presente uma imagem da Imaculada, ao lado de seu filho unigênito e da Santíssima Trindade. As ordens religiosas foram as grandes responsáveis pela difusão de sua devoção, onde quer que elas se estabelecessem lá estaria, também uma imagem da virgem da Conceição para servir de modelo para todas as mulheres e homens, aquela que deveria ser o exemplo de fé, de confiança.
As imagens elaboradas partindo da descrição do seu dogma vão ressaltar suas principais características. Esta imagem da Imaculada Conceição, do acervo de arte sacra do Museu do Seridó traz todas as suas principais atribuições. Tem um manto azul, vermelho e dourado. O azul para significar sua pureza e virgindade e sua concepção sem mácula, bem como para referenciar o lugar de seu reinado, o azul do céu. Vermelho para lembrar as suas dores e sofrimentos como mãe de Jesus, para ressaltar a cor do sangue que foi derramado por ele para remissão dos pecados da humanidade, através de sua morte. O dourado para lembrar sua condição de rainha do céu e da terra, como também dourada era sua coroa, que lhe conferia um título de realeza. Azul também é sua túnica, bordada com florões para destacar sua natureza de flor, de rosa, da rainha das flores.
Sua base é composta pela presença das nuvens e um querubim, significando o seu lugar de reinado. A lua em crescente representa aquela que não brilha por si só, que é iluminada pela grandeza de seu filho, iluminando a escuridão que se faz no viver do humano.

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